quarta-feira, 31 de maio de 2006

Mille e Cinquecento Miglia - De UK para PT a bordo de um Alfa 75 Veloce

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Há tipos malucos, e alguns ainda mais malucos, e depois… há alfistas malucos!
1474.3 milhas… 2372 quilometros… separavam um Alfa Romeo 75 2.0 Twin Spark de 1987 do nosso canto no Norte de Portugal.
Tratava-se de uma versão especial, exclusiva do mercado inglês – Alfa 75 Veloce – que se caracterizava por ter um kit aerodinâmico especifico, inspirado no 75 Evoluzione, e umas jantes Revolution de 15x7 polegadas, acabadas, em parte, na cor dos frisos do carro. Tudo isto somado com o motor 2.0 TS, com 148 verdadeiros cavalos e à prova de bala.
O eBay foi o ponto de partida para esta louca e longa jornada! Depois de tudo tratado com o vendedor, fizemo-nos à estrada, ou melhor, ao avião. O conceito era simples, voar para Londres e depois conduzir a máquina por estrada até casa, com uma escala em Poitiers em França (tudo isto num carro de 299 libras...) Como é difícil fazer uma reportagem destas mais vale ir vendo o Time-Line .

Time-line:

Sexta

8:15 Levantamos o Alexandre da cama à força para nos ir levar ao Aeroporto Sá Carneiro

9:30 Descolávamos no voo 8443 da Ryanair para London Stansted

11:20 Aterrávamos em Stansted onde, obviamente, estava a chover… bloody UK…



12:00 A bordo do FIAT Punto da Hertz e com ajuda do GPS lançávamo-nos numa jornada de cerca de 200kms em direcção a Witney (Oxford) para ir “levantar” o Seventy Five Veloce… Ponto para comentar a maior novidade: conduzir à esquerda com o volante à direita… Pode ser um bocadinho desconcertante e obriga a fazer as rotundas pela esquerda, em AE é mais simples, mas ainda sim, a faixa rápida é pela direita, o que obriga a algum raciocínio. (NOTA: Eu subi uns quanto passeios a fazer as rotundas, porque não deixei espaço para o "resto" do carro à minha esquerda) UK é, sem duvida, o país dos Petrol Head! O parque automóvel é fabuloso, o melhor de toda a viagem. Carros a diesel são raros, e nas estradas vêem-se com toda a naturalidade algumas “raridades” se andassem cá em Portugal… TVRs Cerbera e Griffin, Jaguars ao pontapé, aparentemente o carro “típico” é o Nissan 350Z dos quais vimos dezenas, Lexus IS 200, Focus RS, Fiesta ST, Golf 5 GTI aos montes, Brabus D6, Jaguares a fazerem de taxi, muitos RX8, e na verdade… muito poucos Alfas… infelizmente.

15:00 Depois de muito penar no trânsito chegamos à oficina Solo Itália onde levantamos o 75. Erro obvio de planeamento, o timing da viagem não teve em conta o possível trânsito! O que nos deu um atraso de 5 horas em relação ao previsto à chegada a Dover para passar o barco para França! O carro! Jesus… estes ingleses não são nada simpáticos (o tipo que nos recebeu no controlo de estrangeiros no aeroporto conseguiu fazer o trabalho dele sem dizer uma única palavra). Primeiro de tudo o carro estava completamente IMUNDO por dentro, parecia que o levavam para as obras… No leilão do eBay o tipo dizia que o carro precisava de travões atrás (pastilhas dizia ele) e que tinha uma panela rota. Em Poitiers (nosso ponto de assistência a meio do caminho) descobrimos uma história diferente. No entanto, o motor trabalhava de maravilha, aliás, a própria suspensão e embraiagem, faziam como que o carro se conduzisse muito bem! Só tínhamos euros connosco e o gajo, na sua simpatia, à pergunta se os aceitava respondeu “Nem sei o que isso é…” Bonito… Fomos trocar aos correios, visto que nos bancos não trocam, e tudo se resolveu. Mais ainda tinha lhe pedido por email se me arranjava em sucata mangas de eixo para os GTV 3.0/FIAT Coupé 20vT ou dos GTA, e o gajo disse que não, que eram muito raros, etc… para chegarmos lá e descobrirmos que só na oficina (se é que se pode chamar aquilo oficina) tinha uns 6, dos quais arranjou desculpas para não vender nenhuns, vá-se lá saber porquê….

16:00 Concluído o negócio, tratados os papeis (tínhamos feito antes de sair de PT um seguro de viagem com assistência), verificados os níveis, começamos o retorno a Stansted com paragem na primeiríssima bomba de combustível para encher o depósito e, aspirar e lavar aquele interior imundo.

19:00 Depois de mais uma rodada no trânsito e de encher o depósito do Punto devolvemo-lo à Hertz e rumamos caminho para o outro leiloeiro do eBay que guardava as jantes Revolution originais.

22:00 Recolhemos as jantes em Maidstone. Vá lá, os ingleses redimiram-se… depois da falta de simpatia CONSTANTE em todo o solo inglês, este homem, que é obviamente um Alfista (já tinha tido o 75 e agora andava de 156 V6, motores esses pelos quais tem uma paixão) foi o extremo oposto. Apresentamo-nos à porta de casa dele às 10 da noite, e ele abriu todo sorrisos, ajudou a carregar as jantes, ofereceu os centros das jantes e uma toalha para não sujar os (porcos) estofos do nosso 75 e, tendo em conta que não tínhamos muitas libras depois de pagar as portagens, ainda nos fez um desconto! Alfistas são outra raça à parte…

23:30 Chegamos a Dover para embarcar no ferry para Calais. O plano era simples, mas a execução era complicada. Tivemos que esperar até às 1:20 para zarpar, o que nos dava duas horas sem fazer nada, seguidas de mais uma hora de barco. Foi o tempo para dormir visto que ainda tínhamos 600 kms a fazer em solo francês e que a nossa hora prevista de chegada à “box” em Poitiers ainda a tempo de dormir era absolutamente irreal.

Sábado

1:00 Embarcamos no Ferry, o Eduardo apesar de ter conduzido o carro lá para dentro nem se lembra de o fazer devido ao sono interrompido. Enquanto toda a gente saia dos carros para ir para autêntica cidade flutuante que era o gigantesco ferry, nós ficamos a dormir recostados no 75.

2:30 Desembarcamos em Calais. As 4 horas de dormida já tinham tido efeito (eu pelo menos já não tinha as dores de cabeça que a ausência de café em UK me provocaram) e fizemo-nos à estrada, desta vez já do lado certo, mas com volante à direita. Curiosamente não requer grande habituação. É muito mais difícil conduzir à esquerda na estrada do que dominar um carro com o volante à direita. O mais complicado é a caixa, mas em AE e com um 2.0 TS a 5ª faz tudo… de 70 às 2000rpm até aos 210 às 5800 rpm o binário e resposta impressionante do TS dominam. NOTA: O carro demonstrava uma vida impressionante, a suspensão permitia rolar a 180 de cruzeiro sem nenhuma instabilidade, o motor parecia autenticamente novo, com excelente resposta e com um carácter que pedia sempre para subir de rotação, mesmo quando lhe levantávamos o pé. Depois de chegar à velocidade desejada bastava um cheirinho para o manter lá, sem nenhum esforço. Os travões não travavam nada, quer dizer, obrigavam a bastante pressão no pedal, mas nunca durante a viagem isso foi um problema, as estradas estavam desertas por nossa conta…

3:00 Paramos para reabastecer pouco depois de Calais.

5:00 Paramos para reabastecer pouco depois de Paris (depois de uma MÉDIA de mais de 150 km/h entre Calais e Paris mesmo com reabastecimentos pelo meio)

9:30 Chegamos a Poitiers. Exactamente 24 horas depois de termos voado de Portugal chegávamos ao nosso essencial porto de abrigo em casa dos pais do Eduardo. O carro não deu problema nenhum até aqui, mas era altura de verificar vários pontos, como o escape que parecia estar a bater no chão nos quilómetros finais da nossa viagem. Foi um merecido descanso, comemos (na viagem precedente tínhamos levado marmita), visitamos a bonita cidade, constatamos que em termos de simpatia os franceses estão, no mínimo, na estratosfera, quando comparados com os ingleses, e dedicamos alguma atenção ao nosso 75. Ao começarmos a ver o carro colocamos a dúvida de COMO TINHAMOS CHEGADO ATÉ ALÍ??? O escape tinha caído sobra o cardan de transmissão, tinha roído o fole e sido cortado pelo veio cardan em andamento. O capot vinha desapertado do lado do condutor (passageiro aqui em PT) justificando as vibraçoes que já tinhamos notado a alta velocidade. O alternador vinha desapertado. O fio do indicador de pressão zero de óleo não estava encaixado, o que justifica o piscar da luz apesar de marcar uma pressão generosa. Um dos tubos de radiador tinha uma ligeira fuga. E, enfim… a noção de o carro precisar de pastilhas atrás foi substituída pelo facto de simplesmente este NÃO TER travões atrás, tendo sido os hidráulicos desligados e parafusos tapavam as saídas no T de distribuição de óleo. Isto justifica a tendência sentida da traseira para “flutuar” quando travávamos… pudera só tínhamos travões na frente! O termóstato estava permanentemente aberto e o carro rodava perto dos 60ºC Colamos o símbolo da Alfa na frente (que tinha caído logo em UK quando estávamos a fazer algumas verificações pré viagem), desmontamos os faróis de nevoeiro, reapertamos os tubos do vão do motor, fixamos a admissão Ractive que estava montada e batia no colector de admissão, ligamos o fio do sensor de pressão zero de óleo, acertamos o nível de água e de óleo. Parcializamos o radiador com fita autocolante para que o carro aquecesse. Reapertamos o capot. Usamos uma rebaradeira para cortar o que restava do escape para que este ficasse a apontar para trás e não para cima, o que nos aquecia a mala. E tivemos que inventar um fole através de uma câmara de ar, massa para correntes de motas e abraçadeiras de plástico, para substituir o que tinha sido destruído pelo escape, até porque o cardan, apesar de não ter folgas fazia toc-toc ao andar devido a não ter lubrificação (o tal barulho atribuído ao roçar do escape). Ainda estivemos para montar as Revolution no carro, mas os pneus estavam mais gastos do que os que tínhamos montados e decidimos não mexer no que estava bom. Reabastecemos novamente o carro (relembro que o TS tem um depósito pequeno, de 47 litros dos quais usávamos cerca de 35/36 entre reabastecimentos), banho, jantamos e fomos dormir por volta das 9:30.

Ver galeria (40 fotos) dos trabalhos e do carro em Poitiers » PS: Vale mesmo a pena ver...

Domingo

0:30 Acordamos, carregamos o resto do carro, e partimos para Espanha. O carro estava ainda mais solto, sem ruídos parasitas (que vinham do alternador e do escape) e a rolar em toda a força.

3:00 Íamos trocando de condutor a cada reabastecimento, cerca de 400kms. O Eduardo fez de Poitiers até ao reabastecimento (mini, de apenas 15 litros porque em Espanha a gasolina seria muito mais barata) a cerca de 200kms da fronteira de Espanha. Depois de entramos em Espanha reabastecemos… gasolina 1.081… cerca de 0.30 por litro de diferença…

Coube-me a mim fazer a passagem dos Pirinéus aí por volta das

4:30. Foi a fase mais lenta, com chuva, nevoeiro, auto-estrada com obviamente muitas curvas, ainda assim rolava-se perfeitamente a 120km/h. Entretanto o sol nasceu.

5:41 Passamos Burgos e paramos para um pequeno-almoço já com a frente cravejada de mosquitos (na passagem dos Pirinéus eles pareciam chuva a bater contra o carro). Voltando atrás no tempo, ainda em França, depois do reabastecimento de eu ter passado para o volante ouvimos uma coisa qualquer a soltar-se, um barulho seco. Passado mais alguns quilómetros ouvimos uma ligeira vibração que variava com a carga de acelerador, atribui esses ruídos a um “donut” do veio de trasmissão a ir à vida, e a partir daí conduzimos sempre com acelerações suaves “auto-limitadas” pela presença do ruído ou não.

8:15 Novo reabastecimento e troca de condutor. Descobrimos a matrícula dobrada pela aerodinâmica (os 220km/h atingidos nas rectas de Espanha devem ter ajudado, com GPS verificava-se um erro de menos de 10km/h no velocímetro, óptimo para um carro dos anos 80). Um holandês que estava por lá, também a abastecer, olhando para um 75 Veloce, matricula inglesa, que não tinha panela traseira, roncava como um macho, tinha a frente cravejada de mosquitos e a matricula dobrada pronuncia: “Wha´t´a fuck” espantado… ao que lhe respondo: “High speed long distance cruising!” lembrando-me do slogan da velhinha AJS 18S…

9:20 Depois de um novo reabastecimento em Espanha, para aproveitar o preço, passamos a fronteira em Vilar Formoso. 48h depois estávamos de volta a Portugal!

Mesmo já em Portugal ainda tínhamos +350kms para fazer até a Braga, o nosso objectivo, de ir ao encontro informal no Autódromo. O síndrome de chegar a casa, fez aquele 75 andar ainda mais, no entanto, o Eduardo, atribuindo ao escape o ruído detectado ainda em França, forçou um pouco o andamento o que deteriorou completamente o “donut”. Num túnel, um “blip the trottle” (para ouvir o escape “engarrafado”, e indeliberadamente nas barbas da policia), acompanhado pelo que parecia ser um rater, determinou o fim definitivo do “donut” da transmissão. Uma paragem na área de serviço mais próxima e um reforço das ligações com fitas de nylon, assim como uma protecção para, em caso de se desencaixarem, o veio não cair. Foram as últimas reparações da máquina, a 20kms de Aveiro. Rolar só era possível porque o veio de transmissão dos trans-axle é de comprimento constante (a caixa é fixa e atrás) e, como a embraiagem também é atrás, o veio só sentia a rotação do motor e não a velocidade, pelo que em 5ª o veio continuava a rodar lento. Os parafusos, mesmo sem estarem ligados entre si, encostavam uns nos outros, rodando em torno do eixo do veio, progredindo o movimento.

12:15 Depois foi rolar lentamente (120-140) pela A1, VCI e IC1 até Perafita, em que trocamos o 75 pelo meu 156 JTD… Parecia que tinha um ancora em vez de um motor, aquele TS é mesmo um coração valente e deixa saudade… e lá rumamos a Braga, para ver o 147 ganhar a sua primeira prova no Nacional, com direito a claque do ALFA nord.

Chegamos. Ficaram provadas uma série de coisas, mas acima de tudo que o 75 TS é um carro fabuloso, rapidíssimo, com bom comportamente e ainda assim confortável. Está bem que foram necessárias algumas aptidões mecânicas para o fazer chegar, mas as únicas coisas que nos poderiam faz realmente ficar apeados seriam o cardan gripado e o donut nos quilómetros finais (potencialmente o capot voar, mas o carro anda sem capot na mesma). Poderiam, mas não deixaram! Por isso, para um carro que faz 20 anos no próximo ano, que custou 450 euros e que compriu quase 2400kms a alta velocidade… só pode ser uma grande maquina.



Os números:

Depósitos: Witney, UK (36 litros)
Calais, FR (35 litros)
Paris, FR (38 litros)
Poitiers, FR (30 litros)
Bayone, FR (15 litros)
Fronteira, ES (35 litros)
Depois de Salmanca, ES (35 litros)
Fronteira Vilar Formoso (20 litros) Ainda estão 35 no deposito (3/4) porque viemos devagar para o Norte.
Total: 209 litros

Distancia total:
Witney-Perafita 2372kms

Média de consumo: 8.8 L/100kms

Velocidade média total: 92km/h

2372km / 25.75 horas (com todas as paragens incluídas, só contamos o tempo entre pontos: Witney (recolher carro) – Dover (atravessar de barco) Calais – Potiers (parar em casa) Poitiers – Perafita (parar em casa) com tudo que isso implica de transito, devolver o carro à Hertz, comprar jantes, comer, reabastecer, portagens, verificar carro. etc....) (em termos de estrada estimamos uma média acima de 140km/h porque era praticamente essa a velocidade minima a que rodavamos)

(Texto de Tomé Coelho, meu companheiro nesta viagem...podem consultar a reportagem completa com fotos aqui : http://www.alfanord.pt/pages.php?id=341 )

2 Comments:

Blogger Unidos na Diversidade said...

voçes sao loucos !!! ganda aventura!!!
só uma pergunta,o que é que vao fazer ao 75 ?

Eu uma vez também experimentei um 2.0 k tava pa vender, parado a montes de tempo. Metemo-nos dele tocámos logo nos 200!! grande mákina, quero ver se compro um para guardar

21:46  
Anonymous Anónimo said...

bolas, sim senhor

grande viagem !!! Eu moro no Luxemburgo e todos os anos sao a fazer 2000km de carro....

Adoro estas viagens!!!! Eu tenho um TDi por isso é um bocadito differente e granda màquina que tens.!!!!

Beijocas monica do Luxemburgo(monicamarques22@hotmail.com)

16:42  

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